Se te encontras a fazer um caminho pela promessa de uma vida melhor, pela promessa de uma vida espiritual ou por uma vida repleta de sensações divinas e este compromisso pede de ti certos votos de Fé, como rezar ou meditar ou participar, acredita que é uma bela experiência! Mas, toma atenção, para que toda esta sensação de realização que experimentas no meio de tudo em que acreditas não te deixe cego pela procura da Luz.
A sombra dá-nos abrigo do sol; a sombra permite que consigamos distinguir os objectos; a sombra oferece-nos o descanso que necessitamos durante a noite. O excesso de luz encandeia. Não existe pior cegueira do que o fanatismo da Fé, da devoção absurda e fora de razão, da participação cega em crenças que limitam o gozo pela vida e, a pior de todas, a que destrói o outro por ele pensar de forma distinta.
O cego é aquele que procura a luz, mas o cego na luz não encontra as fronteiras, a base e o sossego para sentir-se em paz. Ele acredita que a sua paz é essa sensação de temor e culpa que o afastam do serviço divino da realidade e acredita que o ato de opacar o outro em nome da calma, provoca tranquilidade nos seus próprios ideais.
O consumo, as modas e as crenças da sociedade também são uma forma de ficar cego. Convertemos as pessoas de discurso fluente em referenciais celestiais que nos levam por caminhos incandescentes. O excesso de luz não nos dá paz nem abundância; apenas o brilho que surge a mais não nos deixa ver a sombra que marca a direcção do caminho a seguir. A abundância não é um estado mental nem um talismã geométrico, a abundância é apenas uma atitude e uma sensação emocional que surge nos momentos e manifestações de prazer.
A verdadeira espiritualidade encontra-se onde é necessário usar persistência, decisão, clareza e sentimentos próprios que nos permitam atingir a plenitude interna. A verdadeira espiritualidade acontece no lugar mais obscuro do teu coração, ali onde apenas um suspiro cria as riquezas mais supremas; ali onde um “bater” na mais obscura das cavernas do teu coração, cria os sonhos que se transformam no farol que ilumina o nosso caminho. A verdadeira espiritualidade não é repetir os momentos de epifania de outros, nem em aplicar os seus métodos; a verdadeira espiritualidade é viver em coerência! Isto aprende-se em algum lado? Sim, aprende-se quando acreditamos no amor incondicional dos antepassados que te entregaram o melhor que tinham; pode não ter sido o que esperavas, mas fizeram-no acreditando honestamente que serias um grande servidor e protagonista de momentos de harmonia, só por isso valeu a pena todo o legado que deixaram para ti. Quando amadurecemos, compreendemos a sua intenção e cada um dos seus erros e incompreensões; pega nesta aprendizagem e transforma-a no teu próprio sentir ao acreditares na tua própria criação. O acreditar e criar em nós e por nós próprios produz um belo resultado; um pouco ensombrado, algo brilhante, que desde a imensidão obscura do teu interior, te oferece brilho e não luz, para criares a sombra necessária que te mostra o caminho.
Deixa de acreditar nos “falsos sóis” que encandeiam com promessas de ouro e diamantes que não são mais do que pedras e cristais que não brilham na obscuridade da tua ambição, e que apenas se mostram no pretenso brilho do teu olhar. Compreenderás que o diamante mostra a sua pureza diante do brilho dos teus olhos e não diante do brilho das lojas de moda; compreenderás que o ouro não é a riqueza que nos sustenta; compreenderás que aquele que realmente brilha é o que possui a luz no seu interior e com ela ilumina os sombrios e ao mesmo tempo refrescantes caminhos dos teus projectos, repletos de gozo e de paixão.
A abundância e a ambição, assim como a espiritualidade dos fanáticos oferecem-te apenas aquele brilho que encandeia. Procura as sombras onde descansa a tua luz; busca o farol que te leva aos teus sonhos mais reais; elege a obscuridade para gritar o amor e não procures o ruído para fazer luzir as tuas jóias.